Há uma desconfiança que nos perturba: toda a natureza é natureza morta. Sob o inebriamento das luzes da ciência moderna e do seu racionalismo universal, fomos adormecidos num sonho em que, por princípio, todo o Mundo é governado por leis imutáveis que apreendem a natureza como uma matriz de fenómenos transparentes e previsíveis. Emancipado pela técnica, é o Homem que inventa a natureza e se assume como o mestre desse gigantesco depósito, o depósito de uma natureza passiva e morta, transformada num mecanismo que, uma vez programado, continua controladamente a seguir as regras inscritas no programa de uma engenharia absoluta. É esse programa que lhe sacia as necessidades e assegura o progresso que colonizará todos os domínios do mundo natural e das suas imprevisibilidades. Do alto do seu império, o Homem não é apenas piloto e mestre, é também um contemplador: o espectador que observa, com uma distância segura, o cenário prodigioso desse depósito natural, continuamente arranjado, preparado, montado e artificializado para o satisfazer.
Apenas recentemente teremos começado a acordar desse sonho. Quando o impacto humano sobre a Terra é maior do que qualquer outro, pressente-se, enfim, que até o Homem faz parte desse depósito e que o acelerador do seu progresso é também o do seu declínio. A virtude do novo olhar é inseparável do desassossego que o aflige: o depósito rico, e até então silencioso, – a natureza como eterna alteridade da cultura humana – deixa de ser o pano de fundo, o meio envolvente, a figura distante. O que foi dado como seguro é, afinal, instável e, cada vez mais, indecifrável. Como consequência, o momento em que as preocupações ecológicas alertam para a frágil sustentabilidade do mundo natural é também o momento em que a sua dimensão de força maior e activa se torna evidente.
Através de três peças que constituem três momentos distintos, mas relacionados, de problematização destas tensões, “Depósito de uma Natureza Activa” surge como um laboratório livre no qual se joga a possibilidade de se reiniciar a ideia de natureza à luz das mutações presentes: pensar uma natureza activa implica pensá-la a partir da sua face irascível e selvagem, implica, no limite, pensá-la como qualquer coisa que, mesmo que já tenha sido lançada na vertigem do seu apocalipse, continua desgovernada a irromper sob as pegadas do Homem, indiferente aos seus crimes ou às suas esperanças, surda perante os seus cantos ou as suas preces.
As três instalações foram desenhadas e concebidas pelo artista visual João Pedro Fonseca, para as quais convidou três músicos portugueses, de cidades distintas, para trabalhar a sonoplastia e, assim, fundir a sua perspectiva individual do tema com as peças já criadas.
STIMULATED/SIMULATED - Mr. Herbert Quain (Lisboa)
SOMBRAS DO TEMPO - Manuel Guimarães (Coimbra)
OSSO PART II - I, Alexander / Pedro Barquinha (Nova Iorque)
credits
released July 16, 2018
STIMULATED/SIMULATED by Mr. Herbert Quain / Manuel Bogalheiro
SOMBRAS DO TEMPO by Manuel Guimarães
OSSO PART II by I, Alexander / Pedro Barquinha
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